Crônica dessarumada em
quase conto
Dedicação à arte de Dessarumada: Juciara Ananias
A
crônica de hoje não é de hoje. Pede mais. Muito mais que um pobre escritor pode
dar. A vida dar. Nossos encontros. Não são encontros. Não sabemos nomear. Nem
quando apontamos as palavras com os dedos. Feito crianças quando pergunta sobre
o novo. Só sei que temos epifanias.
Pequenas? Não sei. Muita coisa não sei. Mas sei que não sei. Nossos
ônibus são presentes, nosso delírio é delírio mesmo e não perdemos tempo.
Afinal, tempo se ganha ou perde? Nos voltamos para os mistérios da alma. Sem saber que se tomamos
café ou vodka. Nosso encontro, insisto, não é encontro. É outra coisa que não
sabemos nomear. Tristeza não tem fim,
felicidade sim. Cantamos O
poetinha do amor Vinicius de Moraes em os Inconsoláveis: Desesperados vamos pelos caminhos desertos/
Sem lágrimas nos olhos / Desesperados buscamos constelações no céu enorme /E em
tudo, a escuridão. /Quem nos levará à claridade/Quem nos arrancará da visão a
treva imóvel /E falará da aurora prometida? /Procuramos em vão na multidão que
segue/ Um olhar que encoraje nosso olhar /Mas todos procuramos olhos
esperançosos /E ninguém os encontra.
Chegará
como um pássaro, que não foi chamado, e pousará sobre nós como uma leveza sobre
a leveza. Que já não era mais leveza, era uma coisa qualquer de ser belo, feio
e leve.
Celebramos
o que decidimos celebrar. As coisas nelas mesmas. Saber que se existe é. Desse
rumo saia dessarumada com belezas infindáveis. Mesmo dessarumada é amada. Mais
pela dessarumação do que por qualquer outra coisa. Ela embarca no que sentia e
visitava países, becos e zonas da psique dantes não navegados. Quer dess'almada,
quer dessa(Ru)mada. Rua porta de casa. Ser bela significa ser dessarumada.
Quero me dessarumar. Ver o mar. AR: Recolhes tua alma. Como esta crônica é invólucro
de nosso âmago amargo e dulcíssimo. Recolhes por que colhe. E explodes em sóis
que nem os universos conhecem. Você se ouve? Quando você abril? Quando inverno
em meio ao verão e quando verão em meio ao nada. Como nos fazemos alguma coisa?
“Silêncio, por favor, enquanto escuto a dor do peito”! Que dor que nada, tudo é
dor mesmo.
ReVolto
ao livro que não sai de mim. Não de mim, Não de mim. Assim. Esse fato é
superpungente, encantado, estorvo e eclosão. Escorregar entre os dedos um
livro. Assombro. Impertinência. Incompletude. E Estopim. Quanto mais curto, mais cabe. Como fazer com
que as coisas não ofusquem as coisas. O impossível convence o possível. É com
as palavras que a gente diz o que não quer dizer. Ou não. Livros de papel e
tinta e até virtual, mas aqui abrimos os livros humanos. Pensamento abstrato.
Esquemas? Se só me restou rascunhos. A crônica como um embrulho. No estômago
cintilantes de estrelas. Dedicado à arte de se dessarumar, das indestradas
incoerências, insubmissões. Mas, vem cá, além de tua aparência o que tem mais
para oferecer? Nem adianta procurar no dicionário e caça é pelo eu mesmo. Zero
grau de Libra com ascendência em Áries. Não acreditamos em sumários
astrológicos, por que não queremos. Querer é fatal. Em vista disso e sem vista.
O desamparo...
Drummond
vestido Rasgado em o “Caso do vestido”: Nossa mãe, o que é aquele/ vestido,
naquele prego?/Minhas filhas, é o vestido/de uma dona que passou/... Sem versos
e sem vida. Com versos e reversos da vida.? Abre diálogo!
- Anja, sabes de uma coisa? Me
refaço leitor por você!
Um
diálogo de não sei. Mas nos entendemos profundamente. “Não se preocupe em
entender. Viver ultrapassa todo entendimento”. Pelas palavras aladas de mãe Clarice.
Dançamos nas palavras, com'elas. Mas não nos entendemos?
Opa!
Escute. Agora ouço uma música: Tanta farpa/ tanta mentira/ TANTA FALTA DO QUE
DIZER ... e quanto rastros de compreensão eu deixei. É um estado de espírito o
elogio ao desapego, à descontrução as des-indelicadezas, des-inconvênias e
des-algo: dessarumAção é ficar quieto em sublime e vago silêncio obtuso,
vertiginosamente. Ora sim, ora não, hora ouvis escutar estrelas.
Seu
convite é ser dessarumar, para alguns seja se arrumar o avesso do avesso do
avesso. Não digo o quero, mas quero o digo. Não, não quero mais. Isso para mim
é demais. Seja sendo. Hão de. Ter resiliências e adversidades: revezes em
vitórias. Em amizade, se abrem livros e fracasso de letras. Mas devOro Manoel
de Barros em Ruína:
Um monge descabelado me disse no
caminho: “Eu/ queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína/ é uma
desconstrução. Minha idéia era de fazer/ alguma coisa ao jeito de tapera.
Alguma coisa quer servisse/ para abrigar o abandono, como as taperas abrigam./
Porque o abandono pode não ser apenas de um/ homem debaixo da ponte, mas pode
ser também de/ um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo./ O
abandono pode ser também de uma expressão/ que tenha entrado para o arcaico ou
mesmo de uma/ palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro./ (O olho do
monge estava perto de ser canto.)/ Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra
amor/ está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria/ construir uma ruína
para a palavra amor. Talvez ela/ renascesse das ruínas, como o lírio pode
nascer de um/ monturo.” E o monge se calou descabelado.
O
que se guarda e se esquece e torna-se a
vir a ser em secreto, uma força, de quase belo revela-se no que não foi dito,
pois “o essencial é invisível aos olhos”. A minha traga sua dor. Tu se escondes
em caracóis e dança girando para revelar uma beleza assustadora à humanidade.
Para além do bem e do mal. En la noche oscura de San Juan de La Cruz, estamos perdidos na noite em uma
estrofe:
¡Oh noche, que guiaste;
oh noche, amable más que la alborada:
oh noche, que juntaste
amado con amada,
amada en el Amado transformada!
E assim me tornei seu amante
literário em abysmos:
Aiiiiiiii!Queria ter um pouco das palavras que te rodeiam,só para ser justa uma vez!Sou desarrumada diante de você.literalmente!mas graças a Deus,mesmo desarrumada,sou amada!
ResponderExcluirnoite escura,sempre escura!almas prontas para o nada,que é tudo!
Ás mascaras nunca te fizeram mal,Jamais vi alguem
ResponderExcluirser tão feliz em ser de "nada".
Quando te conheci,vi um menino inteligente,culto,amigo.Hoje,te vejo com alma macabéia,mascaras de Brás cubas e poesias de Buarque.Porém tiveste uma triste escolha,diante tantos acertos,me permetiste ser "amante"literária.Escolha complexa,mas,obrigado.